Top

Em alemão existe um ditado muito conhecido que diz assim: Deutsche Sprache, schwere Sprache (Português: Língua alemã, língua difícil). Imagino que muitos de vocês já a tenham escutado em algum momento. E essa também era a opinião do escritor americano Samuel Langhorne Clemens (1835-1910), mais conhecido pelo pseudônimo de Mark Twain.

No ano de 1878, ele fez uma viagem pela Alemanha e se ocupou de forma bem intensa com a língua alemã, na linda cidade de Heidelberg. E depois de muito estudar essa língua germânica, ele acabou desistindo, mas reuniu seus pensamentos e experiências num ensaio chamado The Awful German Language (Português: A terrível língua alemã). Neste artigo ele fala de forma muito bem-humorada sobre o seu sofrimento no aprendizado do alemão… Mas afinal, o que ele achou tão terrível? Vamos aos exemplos:

1) Substantivos compostos através de justaposição: Mark Twain reclama daquelas palavras alemãs que mais parecem não ter fim. Trata-se, na verdade, de muitas palavras juntadas numa só e, para o desespero de quem está aprendendo alemão, elas não levam hífen ou algo que simplifique um pouco a vida do aprendiz. Palavras como Telekommunikationsüberwachungsverordnung, com certeza, causam muito espanto, mas o que poucos sabem no início de seu aprendizado da língua alemã é que apenas trata-se de várias palavras juntas. No caso do exemplo acima são três palavras que poderia-se traduzir como legislação de controle de telecomunicações

Tratando-se desse mesmo assunto, o escritor argentino Jorge Luis Borges, certa vez, disse o seguinte: Não há razão alguma para que eu não escolha todos os idiomas. Mas, supondo que precisasse escolher um, eu escolheria o alemão, que tem a possibilidade de formar palavras compostas (mais ainda do que o inglês) e que possui vogais abertas e uma musicalidade admirável.

2) Posição do verbo no final da frase: Algo de que Mark Twain também reclama no seu texto é sobre o fato de que, em muitos casos, os verbos (que são conjugados) nas sentenças alemãs só aparecem no final das frases. Trata-se, em sua maioria, de sentenças subordinadas que começam com uma conjunção (alemão: Nebensatz).

Exemplo: Ich finde es toll, dass mein Freund so gut kochen kann.
Tradução ao pé da letra: Eu acho legal (o fato de) que o meu namorado tão bem cozinhar sabe.

O que no início da aprendizado da língua alemã soa tão estranho, é algo muito característico dela. Confesso que também me perguntei no início: “Meu Deus, pra que isso???” – rsrsrs

3) Verbos com prefixos separáveis: Algo também típico do alemão é a possibilidade de criar novas palavras usando prefixos e juntando-os também a verbos já existentes. Esse fenômeno também existe na língua portuguesa, por exemplo com o prefixo -re: recomeçar (significado: começar de novo). A peculiaridade do alemão é que esses prefixos (com significado próprio) têm que ser separados da palavra original na hora da conjugação.
Exemplo: aufstehen (português: levantar-se) – Ich stehe auf ( e não: Ich aufstehe!)
Um exemplo literário muito conhecido é o seguinte:

Die Koffer waren gepackt, und er reiste, nachdem er seine Mutter und seine Schwestern geküsst und noch ein letztes Mal sein angebetetes Gretchen an sich gedrückt hatte, das, in schlichten weißen Musselin gekleidet und mit einer einzelnen Nachthyazinthe im üppigen braunen Haar, kraftlos die Treppe herabgetaumelt war, immer noch blass von dem Entsetzen und der Aufregung des vorangegangenen Abends, aber voller Sehnsucht, ihren armen schmerzenden Kopf noch einmal an die Brust des Mannes zu legen, den sie mehr als ihr eigenes Leben liebte, ab.

Trata-se do verbo abreisen (português: partir, no sentido  de sair de viagem) que em alemão é formado pelo prefixo –ab e o verbo reisen. Para conjugá-lo é preciso separar as duas partes: Er reiste …. ab (português: Ele partiu). O que assusta nesse exemplo é o fato de que tudo o que foi acrescentado como informação extra fez com que as duas partes do verbo ficassem cada vez mais longe uma da outra… Só um pouquinho esquisito 🙂

É claro que existem outros exemplos da língua alemã que também são bastante conhecidos por complicarem a vida dos aprendizes dela:

  • Os três gêneros gramaticais (masculino, feminino, neutro) com seus respectivos artigos definidos – os famosos der, die, das:
  • A declinação dos adjetivos nos diferentes casos (Nominativ/Genitiv/Dativ/Akkusativ). A função deles é marcar as relações gramaticais das sentenças: mein guter Freund, meines guten Freundes, meinem guten Freund(e), meinen guten Freund – Mas vamos deixar esse assunto (complicado) para outro artigo 🙂

Quem estuda alemão sabe que a lista é longa, mas vamos ficar por aqui. Como eu também passei pela experiência de aprender o alemão como língua estrangeira, sei bem o quanto esse processo é doloroso (!). Mas, não há nada melhor que divertir-se nessa jornada, assim como o fez Mark Twain. Depois de ter estudado alemão durante um tempo, ele chega à conclusão de que um estudante talentoso leva 30 horas para aprender inglês, 30 dias para aprender francês e 30 anos para aprender alemão… E ele ainda acrescenta: Só os mortos têm tempo para aprender alemão!

Bom, não vou negar que a língua alemã é complicada! Mas não se deixe desanimar através dessas palavras do nosso amigo americano… Se você ainda está aprendendo alemão ou pensa em começar a aprendê-la, tome essas peculiaridades da língua de Goethe como um (grande) desafio, mas que, com certeza, pode ser vencido! Eu sei do que estou falando 🙂

Na sua opinião, qual é a parte mais, digamos,desafiadora, da língua alemã? Conte-me!

Abraços,
Rode


Deutsche Sprache, schwere Sprache – diesen Satz hat jeder, der Deutsch als Fremdsprache lernt, schnell drauf! Und das war die Meinung auch vom US-amerikanischen Schriftsteller Samuel Langhorne Clemens (1835-1910), der eher unter dem  Pseudonym Mark Twain bekannt ist.

1878 unternahm er eine Reise durch Deutschland und beschäftigte sich intensiv mit der deutschen Sprache. Im schönen Heidelberg versuchte er, Deutsch zu lernen. Und auch, wenn er dabei nicht erfolgreich war, kam bei seinem Sprachexperiment ein berühmtes und sehr amüsantes Essay heraus – Die schreckliche deutsche Sprache, wo er seine sprachlichen Eindrücke sammelte. Doch, was fand er eigentlich so schrecklich??? Hier ein paar Beispiele:

1) Zusammengesetzte Wörter: Ein durchschnittlicher Satz (…) besteht hauptsächlich aus zusammengesetzten Wörtern, die der Verfasser an Ort und Stelle gebildet hat, sodass sie in keinem Wörterbuch zu finden sind – sechs oder sieben Wörter zu einem zusammengepackt, und zwar ohne Gelenk und Naht, das heißt: ohne Bindestrich (…)

Mark Twain ist hier nicht alleine! Denn jeder Deutschlerner hat (zu Recht!) Angst vor meterlangen Wörtern wie Telekommunikationsüberwachungsverordnung und Verkehrsinfrastrukturfinanzierungsgesellschaft 🙂 Im Portugiesischen würde man diese Wörter mithilfe der Präposition de (Deutsch: von) übersetzen, wie bei Telekommunikationsüberwachungsverordnung: Legislação de controle de telecomunicações…

2) Verbletztstellung: (…) und danach kommt das Verb, und man erfährt zum ersten Mal, wovon die ganze Zeit die Rede war (…)

Ich muss Mark Twain wieder Recht geben, dass es sehr verwirrend ist, wenn bei manchen Sätzen das Verb erst ganz am Ende (richtige Formulierung in der Sprachwissenschaft: in der letzten Position bzw.  Verbletztstellung) gesetzt wird. Nicht selten weiß der Deutschlerner nicht mehr, worum es geht, wenn er das Verb endlich vor Augen hat…

3) Trennbare Verben: Die Deutschen kennen noch eine andere Form der Parenthese, die sie herstellen, indem sie ein Verb spalten und die eine Hälfte an den Anfang eines spannenden Kapitels setzen und die andere Hälfte an den Schluss. Kann man sich etwas Verwirrenderes vorstellen? Diese Dinger heißen „trennbare Verben“ (…)

Ein prominentes Beispiel an dieser Stelle ist folgende Passage: Die Koffer waren gepackt, und er reiste, nachdem er seine Mutter und seine Schwestern geküsst und noch ein letztes Mal sein angebetetes Gretchen an sich gedrückt hatte, das, in schlichten weißen Musselin gekleidet und mit einer einzelnen Nachthyazinthe im üppigen braunen Haar, kraftlos die Treppe herabgetaumelt war, immer noch blass von dem Entsetzen und der Aufregung des vorangegangenen Abends, aber voller Sehnsucht, ihren armen schmerzenden Kopf noch einmal an die Brust des Mannes zu legen, den sie mehr als ihr eigenes Leben liebte, ab.

Klar kann man als Deutschmuttersprachler nun sagen „Na ja, wer redet oder schreibt denn schon so?“ Richtig! Das tun (Gott sei Dank!) nicht viele, allerdings muss man sich die Verzweiflung von Deutschlernern vorstellen, die mit solchen (meter-)langen Sätzen konfrontiert werden! Das, was für mich mittlerweile so normal ist, hat mich am Anfang, als ich Deutsch gelernt habe, auch unheimlich eingeschüchtert. Twains Vorschlag an dieser Stelle ist folgender: Es ist jedoch nicht ratsam, zu lange bei den trennbaren Verben zu verweilen. Man verliert bald unweigerlich die Beherrschung, und wenn man bei dem Thema bleibt und sich nicht warnen lässt, weicht schließlich das Gehirn davon auf oder versteinert… Also lieber die Finger von den trennbaren Verben lassen 🙂

Weitere Bereich der deutschen Sprache gelten als sehr komplex und schwer zu erlernen:

  • die drei Genera (Maskulinum, Femininum, Neutrum) mit den drei jeweiligen Artikeln – der, die, das;
  • die Adjektivdeklination (mein guter Freund, meines guten Freundes, meinem guten Freund(e), meinen guten Freund)
    Übrigens: Mark Twain sagt dazu: Wenn einem Deutschen ein Adjektiv in die Finger fällt, dekliniert und dekliniert und dekliniert er es, bis aller gesunde Menschenverstand herausdekliniert ist (…) 

Ich könnte ewig weitermachen, schließlich nennt Twain noch einige Beispiele, aber es dürfte schon klar geworden sein, wie kompliziert die deutsche Sprache ist! Ich durfte es am eigenen Leib erfahren und bin froh, dass ich das hinter mir habe… *lach*

Ein amüsantes Zitat sei aber noch an erwähnt:
Aufgrund meiner philologischen Studien bin ich überzeugt, dass ein begabter Mensch Englisch (außer Schreibung und Aussprache) in dreißig Stunden, Französisch in dreißig Tagen und Deutsch in dreißig Jahren lernen kann. Es liegt daher auf der Hand, dass die letztgenannte Sprache zurechtgestutzt und repariert werden sollte. Falls sie so bleibt wie sie ist, sollte sie sanft und ehrerbietig zu den toten Sprachen gestellt werden, denn nur die Toten haben genügend Zeit, sie zu lernen.

Ich hoffe, die Deutschlerner dieser Welt hören nicht auf diese pessimistischen Wörter, denn ich verdiene meine Brötchen u.a. damit, Deutsch als Fremdsprache zu unterrichten 🙂

War es dir schon klar, wie komplex die deutsche Sprache so ist???

Alles Liebe,
Rode
——————————-
Blog: www.entre-duas-culturas.de
Facebook: https://www.facebook.com/entre.duas.culturas
Instagram: @entre_duas_culturas
Twitter: @entre2culturas

Comentários | Kommentare

  • Patricia

    Juni 18, 2015

    Oi Rode!

    Loucura!! Certamente é uma língua difícil, mas estas peculiaridades são assombrosas rs rs rs rs… adorei a frase „só os mortos tem tempo para aprender alemão“ . Só lamento rs rs rs rs.
    Aliás, assisti aos vídeos no Alemanizando e amei a sua participação viu? Vc é tão carismática quanto transparece neste Blog. Incrível como podemos nos identificar com pessoas tão distantes e que nunca conhecemos.

    Um abraço!

    Antworten...
      • Kelly Cohen

        April 18, 2016

        Rode, qual é esse vídeo que você aparece no Alemanizando? Adorei o texto. Obrigada!

        Antworten...
  • Juni 19, 2015

    Eu sinceramente acho a parte da emenda de varias palavras formando uma só muio lógica, nâo sei bem dizer porquê. Mas me parece fazer muito mais sentido em muitos dos casos, do que ter uma palavra totalmente nova…
    Ja o que me faz arrepiar os cabelos é sem duvida as tais das declinações… ahhh sofrimento…

    Antworten...
  • Aída

    Juni 19, 2015

    Oi, Rode! Adorei esse post! Estou nesse processo doloroso de aprender alemão. A parte que eu me desespero loucamente é, sem dúvida, a declinação dos adjetivos. Horrível. Acho que nunca vou aprender. :'(
    Abração!
    Aída

    Antworten...
  • Juni 19, 2015

    Hahaha ótimo post! Eu estou nas idas e vindas com o alemão já fazem uns bons 7 anos, pelo menos… Mas agora encuquei de vez e decidi aprender sim ou sim! E uma das coisas que mais me assustava quando eu pensava em mergulhar de vez no alemão, eram os benditos casos. Depois de duas semanas estudando eles pra valer, já posso dizer que estou completamente livre do medo, entendendo tudo e sendo muito feliz! Hahaha um desafio vencido 🙂 Mas confesso que os verbos com prefixos separáveis ainda me assustam bastante, e acho que ainda vai demorar um pouquinho pra acostumar 😛
    Beijo!

    Antworten...
  • Nilcilene

    September 19, 2015

    Ola!
    Eh realmente uma lingua dificil pra se aprender, mas tem tambem muita logica.
    Para mim, declinar eh a parte mais dificil.
    E os artigos tambem nao sao muito faceis.
    Sem saber o que usar (der, die das) acho que nao se chega a lugar algum.
    Mas eh uma lingua bonita e me esforco em aprende-la, afinal meu marido e filho sao teutonicos. 🙂
    Um dia eu chego la!

    Antworten...
  • Jussara Prata

    März 29, 2016

    Oi Rose
    Minha maior dificuldade são os verbos e eles são importantes para entender o sentido da conversa ou da leitura.
    E também tenho dificuldade com a pronúncia. Por favor, poderia me dar uma dica de melhorar o método de aprendizagem ! Não sou de família alemã e nem tenho marido alemão, apenas sou apaixonada pela cultura e idioma alemão . Já tem muito tempo que tento falar bem o alemão mas o vocabulário é dificílimo de gravar. Mas não vou desistir !

    Antworten...
  • Juliana A.

    Juni 24, 2017

    Realmente é uma língua difícil e complicada, as declinações me mata! Mas toda língua tem suas regras e a gente acaba aprendendo com a prática (assim espero) Mas o que eu sempre me pergunto, porque Deus? Pra que complicar? Sem dúvidas é em relação aos números! Pra quê inverter, me diga, qual a lógica disso?Aff!

    Antworten...
  • Simone

    November 27, 2017

    Rode,
    deve haver uma explicação dentro da Linguística para tudo isso 🙁
    No meu caso, considero que decorar os gêneros dos substantivos e converter rapidamente nas declinações e essa separação dos prefixos dos verbos aliado ao significado (com e sem prefixo) (haja decoreba), é que matam.
    Mas aprender alemão é um desafio e quem mandou eu não ter dado continuidade ao curso quando era mais nova?
    Abraço.

    Antworten...
  • Ellen

    September 2, 2018

    Hallo, Rode. Na verdade, considero o alemão como uma língua desafiadora, como vc.
    Eh como o amor, vc conquista um pouquinho mais a cada dia, e não perde nunca a magia 😊

    Antworten...
  • João Maurício Adeodato

    Mai 13, 2019

    Prezadas e prezados, cara Rode, o problema principal para muitos brasileiros aprenderem as declinações em alemão é que não conhecem bem a gramática de sua própria língua, ou seja, não sabem quando estão usando um objeto direto, indireto, sujeito ou genitivo. Como a palavra „que“, por exemplo, é usada na mesma forma „que“ como sujeito, objeto ou predicativo do sujeito, os brasileiros a usam sem saber exatamente o que estão fazendo: esta é a pessoa „que“ eu vi, esta é a pessoa „que“ me viu, é a ela „que“ me dirijo… E este é apenas um pequeno exemplo! Enfrentam a mesma dificuldade com „que“e „qui“no francês ou com „that“, „who“ e „whom“ no inglês. Boa sorte, mas antes é bom conhecer bem a língua materna!

    Antworten...

Postar um comentário | Einen Kommentar posten