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O filme brasileiro Que horas ela volta? (2015 – Anna Muylaert) também chegou aos cinemas alemães, onde entrou em cartaz com o nome de Der Sommer mit Mamã (português: “O verão com mamãe”). O filme, que mistura drama e comédia, critica de forma sensível e bem-humorada o sistema segregacionista da sociedade brasileira.

E é através desse contexto do filme que explico aos meus leitores alemães, de forma detalhada, a figura das empregadas domésticas dentro do dia a dia brasileiro. Não raramente elas lavam, passam, cozinham e até criam os filhos dos patrões, abrindo mão de ver seus próprios filhos crescerem, quando o emprego fica longe de casa (Por exemplo: Há muitas empregadas domésticas que têm de deixar o Nordeste e ir morar na Região Sudeste). O que dentro da sociedade brasileira é visto de forma natural, deixa muitos alemães surpresos: Não é comum por aqui ter esse luxo, alguém que cuide de tudo e de todos, todo santo dia. E o que acontece é que muitos alemães se sentem até mesmo um pouco constrangidos, quando, de visita a uma família brasileira, veem o quartinho da empregada e o banheiro destinado a ela (tudo muito pequeno, aliás, minúsculo!)…

Outra coisa que chama muito a atenção dos alemães é a diferenciação que se faz para usar o elevador de um prédio de uma grande cidade, por exemplo, do Rio: Moradores e seus visitantes usam o elevador social, enquanto os empregados dirigem-se à porta dos fundos para pegar o elevador de serviço

Confesso que nada disso me incomodava quando ainda morava no Brasil, afinal eu cresci vendo isso como algo natural, uma hierarquia mais ou menos dada por Deus, creem muitos. Hoje em dia, quando estou de férias no Brasil, me chama a atenção ver empregadas comendo sozinhas na cozinha, de porta fechada, enquanto nós (os anfitrões e os hóspedes) estamos sentados à mesa, tão bem posta e cheia de chiquê…

Aqui na Alemanha, já é o maior luxo ter uma faxineira que vem de 15 em 15 dias… E mesmo assim não é todo mundo que tem uma. A gente cuida da casa, divide a tarefa com o marido, limpa um pouquinho aqui, um pouquinho ali, passa a trouxa de roupa aos poucos… É claro que lavar e passar não são os meus hobbys preferidos, mas cá pra nós, isso não mata ninguém, né?

Assiti ao filme Que horas ela volta duas vezes aqui no cinema Metropol de Düsseldorf. Da primeira vez, o assisti na versão original e me deliciei com o sotaque nordestino, cada piada, com a ótima atuação da Regina Casé (digam o que quiser, mas eu sou fã dela!) e com cada frase em português… Acho que só quem está há tanto tempo fora do Brasil me entende. Da segunda vez, fui assisti-lo com uma amiga russa, que se interessou pela trama porque assistia a novelas brasileiras quando ainda morava na Rússia 😉 Confesso que a versão em alemão achei totalmente sem sal, uma pena, mas perde-se muito na hora da tradução…

Se você ainda não viu: Ainda dá tempo! O filme ainda está em cartaz em várias cidades da Alemanha. Veja a lista dos cinemas aqui.

Você já tinha parado para refletir acerca desse sistema segregacionista que há no Brasil? O que chama a sua atenção nesse sentido? Conte-me!

Abraços e até a próxima,
Rode


Der brasilianische Film Sommer mit Mamã (2015 – Originaltitel: Que horas ela volta?) läuft zurzeit auch in den deutschen Kinos. Es handelt sich um eine sozialkritische Komödie, die die brasilianischen Gesellschaftsstrukturen als Thema hat. Hauptfigur ist Val, eine Frau aus dem armen Nordosten Brasiliens, die nach São Paulo geht, um bei einer reichen Familie als Hausangestellte zu arbeiten.

Tatsächlich sind die sogenannten empregadas domésticas (das ist die portugiesische Bezeichnung für „Hausangestellte“) aus Brasilien nicht wegzudenken. Sie gehören zur brasilianischen Realität sowie zu den Häusern der brasilianischen Ober- und Mittelschicht. Nicht selten kommen sie – wie die Filmfigur Val – aus dem Nordeste, der ärmsten Region Brasiliens. Entweder leben sie in den periferias (Deutsch: „Randgebieten“) von Großstädten wie Rio und São Paulo und fahren schon mal zwei Stunden mit Bus und Bahn zu ihrem Arbeitsplatz. Oder sie wohnen – wie es im Film der Fall ist – direkt bei ihren Hausherren in dem sogenannten quartinho de empregada, einer winzigen Kammer mit gerade mal Platz für ein Bett und einen Kleiderschrank. Auch ihr eigenes Bad haben sie, ebenfalls im hinteren Teil der Wohnung bzw. des Hauses gelegen. Dass sie die Toilette ihrer Hausherren nicht benutzen dürfen, ist eine unausgesprochene Regel. Nicht selten müssen sie auch eine Uniform tragen…

Dieses Zweiklassendenken ist im brasilianischen Alltag tief verwurzelt und wird von den meisten nicht infrage gestellt. So verfügen beispielweise die Mehrfamilienhäuser in Brasilien i.d.R. über zwei elevadores: Der elevador social ist der offizielle Aufzug des Hauses und wird von den Bewohnern und deren Gästen benutzt; Der elevador de serviço wird wiederum von den Angestellten, Handwerkern und Lieferanten benutzt. Alles ist klar geregelt – Übrigens sollte man nach einem Strandbesuch oder einer Joggingrunde nicht den vorderen Aufzug nehmen, sondern den, der für die Hausangestellten vorgesehen ist (ein bisschen kompliziert, ich weiß!)…

Die empregadas domésticas sind oft eine zweite Mutter für die Kinder der Hausherren und ziehen diese auf, während ihre eigenen Kinder bei den Großeltern oder Tanten leben müssen. Das Geld, das sie verdienen, schicken sie ihrer Familie, können aber am Leben ihrer eigenen Kinder nicht teilnehmen.

Solltet ihr nach Brasilien kommen und bei mehr oder weniger finanziell gut gestellten Brasilianern zu Hause leben, werdet ihr Folgendes beobachten können: Die Hausangestellten putzen, kochen, waschen, bügeln, kümmern sich um das Haustier… Sie bieten quasi eine Art Rundumservice, an den man als Deutscher sich erst einmal gewöhnen muss. Die frische Wäsche wird von ihnen sogar in die Kleiderschränke eingeräumt. Erzählt man den brasilianischen empregadas, dass man in Deutschland keine Hausangestellte hat – höchstens eine Putzfrau, die alle zwei Woche kommt -, werden diese die Welt nicht mehr verstehen. Das ist für sie unvorstellbar, denn jeder Brasilianer, der sich das gerade so leisten kann, tut es auch!

Ich muss sagen, ich habe in meiner Kindheit und Teenagerzeit in Brasilien nie Gedanken über dieses Zweiklassensystem gemacht. Ich habe zum Beispiel Großtanten in Rio, die schon immer eine Hausangestellte hatten (übrigens, dieselbe seit über 10 Jahren). Kommt man da an und versucht, in der Küche ein Gespräch mit ihr aufzubauen, scheitert man immer, denn das ist ihr einfach unangenehm. Es ist auch üblich, dass sie sich erst zum Essen nimmt, wenn alle anderen gegessen haben. Und gegessen wird natürlich in der Küche – auf älterem Geschirr…

Solltet ihr mehr darüber erfahren wollen, kann ich den Film Ein Sommer mit Mamã wärmstens empfehlen. Auch wenn die Originalfassung um einiges interessanter und gefühlvoller ist als die synchronisierte Fassung ist, lohnt es sich, ihn anzuschauen. Für mich war es ein großes Geschenk, Regina Casé in der Hauptrolle zu sehen. Diese Schauspielerin „kenne“ ich nämlich seit meiner Kindheit aus dem brasilianischen Fernsehen. Mit viel Sensibilität kritisiert die Regisseurin Anna Muylaert das Zweiklassensystem im brasilianischen Alltag, und ich hoffe sehr, dass dieser Film die Brasilianer zumindest zum Nachdenken anregt. Eine Liste der Kinos, in denen der Film noch läuft, findet ihr hier.

Wart ihr vielleicht schon mal in Brasilien und habt bei einer Familie gewohnt, die eine Hausangestellte hatte? Wie habt ihr das erlebt? Oder kennt ihr vielleicht Brasilianer, die ein Leben lang eine empregada hatten und deswegen weder kochen noch ihre eigene Wäsche waschen können, wenn sie z.B. für ein Semester nach Deutschland kommen? Ich freue mich auf eure Berichte!

Bis zum nächsten Mal
Rode

*Foto: Paulo César A. (Obrigada a vocês, PC e Leila, pela foto!)

Inspiração/Inspiration:
– Andreas Wunn: In Brasilien geht’s ohne Textilien. Ein Deutscher in Rio de Janeiro. München: Wilhelm Heyne Verlag 2013. S. 10-16.
– Nina Büttner et al: Fettnäpfchen Brasilien. Lebenskunst zwischen Karneval und Copacabana. Meerbusch: Conbook Medien 2012. S. 88-95.
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Comentários | Kommentare

  • Caroline

    September 23, 2015

    Olá Rode,
    conheço seu site desde pouco tempo e, além dos temas muito pertinentes e trazidos de uma forma clara e consistente, acho mais legal ainda que você espalha esses assuntos também aos alemães.

    Esse filme nos coloca de frente pro que não queremos ver. E muita gente fica desconfortável.

    Sem dizer abertamente a que veio, o filme diz muito sutilmente mesmo. A Jessica é a peça chave que faz todo mundo se questionar, quando ela se comporta de um jeito que „não se esperava ela“. E a resposta dela „não sou melhor, sou não acho que sou pior“ é maravilhosa!

    Merecia ter o oscar de filme estrangeiro pra essas questões ganharem bastante visibilidade e, quem sabe, começarem a ser questionadas no Brasil.

    Um abraço!

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  • Ma

    September 24, 2015

    Nao querendo dizer que você está errada, mas atualmente, pelo menos em SP e RJ há leis que proíbem a discriminação no uso dos elevadores. Em SP inclusive é obrigatória uma placa dizendo isso. Infelizmente teve que se criar lei pra isso e não na consciência de cada um. Mas isso não quer dizer que a pessoa não seja discriminada mesmo estando no mesmo espaço físico. Sabemos bem que a linguagem corporal pode dizer muitas coisas mesmo sem emitir um som que seja.

    Parabéns pelo blog

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  • Nilcilene

    September 25, 2015

    Ola!
    Confesso que antes de morar aqui nao dava muita importancia a essa „segregacao“ que os empregados sofrem em relacao aos patroes.
    Principalmente em relacao a alimentacao, porque normalmente nao se ve trabalhador e empregador fazendo as refeicoes em mesmo horario e na mesma mesa.
    Acho que a coisa do elevador nao esta mais tao em evidencia.
    Pelo menos vejo isso no predio onde minha irma reside no Rio.
    Aqui nao ha essa divisao restritiva.
    As profissoes, independente de quais sejam, tem sua importancia e valor.
    Isso eu parabenizo os alemaes.
    Queria muito assistir ao filme, vamos ver se da.

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  • Gabriel

    September 27, 2015

    Eu prefiro ver o copo meio cheio ao invés de ver meio vazio, quando eu era criança era comum em várias casas uma pessoa dormir em um quartinho depois da cozinha, agora (polo menos em São Paulo) as pessoas que eu conheço não tem mais empregada, apenas uma diarista que vai uma vez por semana ou de 15 em 15 dias.
    Os novos apartamentos não em mais aquele herança de senzala.
    Nesse programa da globo da para ver a mulher que não consegue mais encontrar uma empregada doméstica por que elas simplesmente não se sujeitam a uma rotina dessas.
    https://www.youtube.com/watch?v=bH8brgDWg6c

    Está mudando sim, é péssimo ainda, claro. Mas já foi muito pior em um passado nem tão distante

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  • Magaly

    September 28, 2015

    Olá,
    Fui assisti o filme com uma pessoa que trabalha na casa de meus pais há 30 anos e que hoje cuida de minha mãe senil. Algumas pessoas acharam esquisito eu levá-la pra ver justamente esse filme, mas gostei de tê-lo feito. Ela nunca foi tratada daquela maneira e dorme num dos quartos da casa com sua filha, que nasceu lá e que hoje é uma farmacêutica formada. Ela se divertiu muito e demos boas risadas junto.
    Eu sei que aquela situação é a realidade de muitas famílias, mas graças a Deus nós sempre lidamos com isso de outra maneira e temos certeza que ela não se identificou com a personagem.
    Minha família sente por ela uma profunda gratidão e respeito!
    Magaly
    Salvador Bahia

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