Dizendo „não“: Diferenças culturais entre brasileiros e alemães | „Nein“ sagen in Brasilien
Não – uma palavra de apenas três letrinhas, mas tão evitada pelos brasileiros. Estando já há 15 anos fora do Brasil, essa é uma das coisas que mais me chamam a atenção quando estou de férias na terrinha: Raramente eu escuto alguém dando um claro não como resposta a uma pergunta qualquer: Você pode me ajudar a fazer a minha mudança no sábado? Posso passar uma semana na sua casa? Você vem à festa hoje à noite?
Muitos preferem trocar o não por respostas do tipo Vamos ver, Talvez ou Depois eu te falo… E o que acontece? O sujeito não aparece nem dá notícias. Simples assim. Para evitar conflitos ou conversas desagradáveis, muitos brasileiros tendem a sempre dizer sim, sim, sim quando, no fundo, gostariam de dizer não. Faz parte da mentalidade brasileira dizer sim e pensar Eu me viro. Vou dar um jeito. Isso tem a ver com a alta sociabilidade dos brasileiros, como observou William Ury, professor de Harvard e um dos maiores negociadores do mundo, numa entrevista à Revista Isto é Dinheiro em dezembro de 2014. Para ele, os brasileiros precisam aprender a dizer não, o que pode ser desagradável, mas importante para chegar a uma boa conclusão para os problemas.
Uma ex-aluna minha alemã fez um intercâmbio no Brasil, onde estudou durante um semestre na UFSC, em Florianópolis. Como é o caso de muitos alemães que passam um tempo no Brasil, ela voltou encantada com o país, mas decepcionada com a falta de sinceridade de muitos colegas/amigos brasileiros, justamente pelo fato de dizerem sempre sim e simplesmente não agirem como combinado. No dia de sua mudança de uma república para outra, ela esperou durante horas, mas nenhum dos colegas que prometeu ajudá-la apareceu ou deu notícias… Se ela tivesse escutado um não desde o início, teria se organizado de outra forma e não teria perdido tanto tempo esperando… Acho que foi isso o que mais a deixou chateada.
Nesse ponto, nós brasileiros temos muito o que aprender com os alemães. Usar a palavra nein (“não”) é comum por aqui, assim como as frases Ich habe keine Zeit (“Estou sem tempo”) ou Ich bin heute lieber alleine (“Hoje eu prefiro ficar sozinho”). O que pode parecer meio estranho e grosso para quem não está acostumado, faz com que muitos mal-entendidos sejam evitados. Dizer não a um convite ou como resposta a um pedido de ajuda não vai fazer de você um amigo egoísta ou arrogante. Apenas mostra que você aprendeu (ou está aprendendo) a respeitar seus próprios limites ou realmente está sem tempo para fazer algo determinado. O segredo é dizer não de forma positiva, como sugere Willyam Ury na entrevista citada acima. Essa palavrinha pode evitar que a comunicação se torne confusa e pouco pragmática…
Confesso que para mim é mais fácil dizer não para os meus amigos alemães do que para brasileiros, justamente porque sei que no Brasil esse assunto é mais complicado do que aqui…
E você, já aprendeu a dizer não ou ainda acha desagradável fazê-lo? Como você lida com a sinceridade e clareza dos alemães neste ponto? Conte-me!
Abraços,
Rode
Não ist das portugiesische Wort für nein, aber das werdet ihr in Brasilien kaum hören. Den meisten Brasilianern ist es nämlich sehr unangenehm, ein nein als Antwort auf eine Frage zu geben: Kannst du mir am Samstag beim Umzug helfen? Kann ich meinen Urlaub bei dir zu Hause verbringen? Kommst du heute Abend auf die Party?
Lieber sagt man so was wie Ich schaue mal, Vielleicht oder Ich sage dir Bescheid. Fakt ist, dass sich doch keiner meldet. Einfach so. Um angenehme Situationen oder Konflikte zu vermeiden, sagen viele Brasilianer auch dann ja, wenn sie eigentlich nein sagen wollen, sich das aber nicht trauen. Es gehört nämlich zur brasilianischen Kultur ja zu sagen und sich dabei zu denken Na ja, ich finde schon einen Weg… Das hat mit der sehr ausgeprägten Geselligkeit der Brasilianer zu tun, wie der Harvard-Professor William Ury, einer der besten Verhandlungsmänner der Welt, in einem Interview formuliert hat. Er ist der Meinung, dass die Brasilianer lernen sollen, nein zu sagen. Es sei natürlich unangenehm, aber äußerst wichtig, um zu einer Lösung zu kommen.
Eine deutsche Studentin, die in einem meiner Portugiesisch-Kurse an der Uni saß, berichtete einmal von einer weniger schönen Erfahrung, die sie während ihres Uniaustauschs in Brasilien gemacht hat: Sie war nämlich sehr enttäuscht über die fehlende Ehrlichkeit ihrer brasilianischen Kommilitonen/Freunde, die brav immer ja sagten, ohne es ernst zu meinen. Bei ihrem Umzug von einer WG in die andere haben einige zugesagt zu helfen, doch an dem Tag selber ist aber keiner erschienen. Hätte sie von vornherein ein Nein, ich kann leider nicht als Antwort auf ihre Bitte gehört, hätte sie sich einfach anders vorbereitet. Ich glaube, das war das, was sie am meisten geärgert hat.
In dieser Hinsicht können wir Brasilianer viel von den Deutschen lernen. Hier ist es nämlich üblich und normal, das Wort nein oder Sätze wie Ich habe (leider) keine Zeit oder Ich bin heute lieber alleine zu sagen. Das klingt in Brasilien sehr unhöflich und arrogant. Erst hier in Deutschland habe ich gelernt, dass es völlig in Ordnung ist, nein auf eine Einladung oder eine Bitte zu antworten. Wichtig ist immer, dass man seine eigenen Grenzen respektiert und seinem Gegenüber die negative Antwort so angenehm wie möglich beibringt.
Solltet ihr mit Brasilianern zu tun haben, dann seid geduldig mit ihnen, denn sie müssen noch lernen, sich zu trauen, nein zu sagen. Und wenn ihr mal nach Brasilien kommt, seid mit Sätzen wie Nein, ich will nicht mitkommen. Ich brauche nämlich Zeit für mich etwas vorsichtig. In den brasilianischen Ohren klingt das arrogant, schroff und egoistisch. Versuche, den Leuten gegenüber zwar ehrlich zu sein, aber ohne sie dabei vor den Kopf zu stoßen, indem du z.B. eine Alternative anbietest…
Auch am Strand gilt: Niemals nein zu einem Strandverkäufer zu sagen. Antwortet lieber Hoje não. Obrigado/a. („Heute nicht. Danke“) – nach dem Motto „vielleicht kommen wir ein andermal ins Geschäft“…
Mir persönlich fällt es leichter, meinen deutschen Freunden gegenüber nein zu sagen. Gegenüber Brasilianern ist es ein wenig schwerer für mich, denn ich weiß ja, dass man in Brasilien etwas vorsichtiger damit sein muss…
Habt ihr bereits Erfahrungen in dieser Hinsicht gemacht? Wie geht ihr mit diesem großen Kulturunterschied zwischen Deutschen und Brasilianern um? Ich freue mich auf eure Berichte!
Alles Liebe
Rode
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Bárbara Isenberg
Eu sempre fui tida como grossa justamente por dizer não quando queria dizer não. Essa parte do meu sangue alemão sempre me trouxe problemas aqui no Brasil. Com o tempo tive que ir aprendendo a dar aquela desculpa esfarrada pra me livrar de coisas q nao queria fazer sem magoar algumas pessoas. Aqui o pessoal é muito sensível nesse quesito, levam tudo muito pro lado pessoal. Dizer não pra alguns é quase uma ofença.
Pra mim é extremamente complicado saber dosar.
Natalia
Comigo é o contrário! Após um ano na Alemanha, voltei sabendo dizer não e as pessoas achavam estranho, falavam que eu mudei. Eu explicava que ñ fazia o menor sentido eu dizer sim ou dar uma desculpa esfarrapada se eu saberia que eu ia acabar não fazendo o que fora pedido, ou não iria a determinado lugar etc. „Vem aqui em casa? – Ah não vou não, tô com preguiça/sem vontade“ parece ser uma ofensa mas é apenas a verdade rs
Aos poucos os amigos foram se acostumando. Mas os novos amigos (e amores) me acham meio grossa. Tô nem aí rs
Rode
Esse assunto é meio tenso mesmo no Brasil, Natalia:) Tudo de bom!
Rode
Esse assunto é um grande desafio mesmo Bárbara! Quando estou no Brasil, é a mesma coisa comigo:) Abs.!
Isadora Ribeiro
Eu tenho fama de ser grossa e agressiva justamente porque eu digo não e as pessoas aqui no Brasil não estão acostumadas com isso. Algumas vezes eu tenho que inventar umas desculpas pra não dizer „porque eu não quero“, porque aqui é uma ofensa falar isso. Pelo menos me darei bem na Alemanha XD
Rode
Aqui com certeza você vai se dar bem, já que não tem medo de dizer „não“:) Abs.!
Wolf-Marko Salder
Vc tem razao, eles nao querem magoar as pessoas. Eu moro em Munike e toda terca-feira aqui tem um Stammtisch com Brasileiros. Talves, quando vc esta em Munike
venha nos visitar, mais Noticias do Stammtisch na minha Website.
Abracos
Marko
Rode
Olá, Marko!
Eu adoraria participar, mas infelizmente moro muito longe de Munique…
Bom, mas quem sabe um dia, né?
Abs.!
Rode
Karoline
Eu ainda estou no meio termo. Quando falo não as pessoas acham que sou grossa no Brasil. E às vezes me complico toda pra tentar ajudar mesmo sem ter tempo. Preciso aprender com os alemães!
Rode
Aos poucos a gente vai aprendendo:) Abs.!
Heidi Ponge-Ferreira
O mais curioso é a diferença clara no comportamento e no modo de falar. Para responder as perguntas educadamente ficam em cima do muro com o „tanto faz“, „tudo bem“, „pode ser“, „quem sabe“… Mas a redundância negativa é um modo „elegante“!: „Pois não!“, „não me diga!“, „não tenho nada a ver com isso!“, „não me importo“, „nem me diga“, „não sei dizer“, „não foi nada“ e por aí vai.
Rode
Realmente um assunto bastante delicado, Heidi!
Acho que as duas culturas têm muito o que aprender uma com a outra…
Abs.!
Rode
A.Fani. Sereno
Saltei do Brail para Portugal com 19 anos e agora na Alemanhã, não tenho medo nenhum de dizer „não“, seja para um brasileiro,alemão ou sul-coreano, a honestidade e o peso da sua palavra para com outro é estimada onde for. Meus pais dizem que estou arrogante, mas preciso ser colocada nesse grupo e todos podem contar comigo quando digo que faço algo e ajudo, do que no grupo dos que tentam ser simpáticos e no fim te deixam na mão. Beijinhos.
Rode
Temos muito que aprender nessa área, Aline! Que bom que você não tem problemas em usar essa palavrinha da qual tantos têm tanto medo:) Abs.!
Edu
Gostei da temática do texto (alias, fiquei tão curioso que li o texto todo ) mas não gostei de ter acabado de forma tão rasa. Esperava algum insight de porque temos medo do não – repressão? Educação? Será que os alemães sempre disseram não de forma mais natural e comum? Consequência da segunda guerra talvez? E nós? Consequência da ditadura? Ou talvez ainda mais embaixo – desde nossa colonização passiva aos europeus? Não sei.
Rode
Verdade, Edu… O texto poderia ter ido mais a fundo, mas fica pra uma próxima! Eu também não tenho a resposta pra todas essas perguntas…
Emília Mota
Aqui no Brasil, a maioria encara um não (mesmo justificado), como uma desfeita ou egoísmo e podem mudar de atitude em relação à vc por isso. Sinceramente, eu deveria dizer não mais vezes mas não consigo. Gostei muito do seu Blog, parabéns!
Rode
Olá, Emília!
Seja bem-vinda ao blog!
Dizer „não“ realmente não é fácil… Mas a gente vai treinando:)
Abraços,
Rode
Zuleica Marques Schumann
Ola! Rode! Quando meu filho estava no Jardim da Infancia a diretora meu deu um livro cujo o tema era „Aprender a dizer nao“ …. Engracado Como eu tive que aprender junto com o meu filho sobre este assunto. No livro mostrava uma menina timida que dizia um nao baixinho para todos e ninguem ouvia… dizia nao eu nao quero dividir meu chocolate, nao eu nao quero um beijo, nao eu nao quero que voce fique comigo… e no fim ela aprendeu a dizer nao bem alto a todos… E na pagina final ela esta feliz e confiante. Selbstbewusstsein Penso que precisamos aprender a ter respeito pelo nao do outro e nao ficar magoado por isto. Quando aprendemos a respeitar o nao do outro, tambem sabemos dizer nao e considerar isto um direito que deve ser respeitado e aceito numa Boa. 🙂
Rode
Verdade, Zuleica! Nós brasileiros temos muito o que aprender nesse sentido! Abraços pra você!
Giovani Krämer
Olá. O grande problema do brasileiro é que a primeira palavra que aprende é o não.
Não faca isso, não vá lá na rua e etc.
É a forma como somos ensinados sobre as restrições, e como ser restrito de algo nos magoa, nos faz sentir frustrado, e isso nos cria grandes traumas, temos medo de perder uma boa amizade usando o „Não“
Rode
Boa reflexão, Giovani!