Socorro! Estou esquecendo meu idioma materno! Hilfe, ich verlerne meine Muttersprache!
🇧🇷 Sou brasileiro(a), me mudei para a Alemanha há muitos anos, e praticamente só falo alemão no meu dia a dia. Meu português está cada vez mais enferrujado! Será que corro o risco de esquecer a minha própria língua materna???
Essa é uma pergunta muito comum entre pessoas que estão há muitos anos – às vezes, decádas – fora de seus países de origem. A sensação que se tem é que já não se domina mais o idioma materno (L1). Algo muito comum é esquecer determinadas palavras, o que leva o emigrante a usar correspondências léxicas de sua segunda língua (L2), caso ele esteja conversando com alguém que também domine as duas línguas em questão. Realmente pode acontecer uma pequena (ou seria grande?! rsrs) confusão no cérebro. E daí acontecem misturas do tipo: Você já fez seu ‚Anmeldung‘ (ptg.: registro) na prefeitura?; A que horas você vai chegar na ‚Hauptbahnhof‘ (ptg.: estação central de trem)?; Tenho de marcar um ‚Termin‘ (ptg.: consulta) com meu dentista. E por aí vai…
🇩🇪 Ich bin Brasilianer(in) und wohne seit mehreren Jahren in Deutschland. Seitdem spreche ich fast ausschließlich Deutsch in meinem Alltag. Mein Portugiesisch ist schon ganz schön eingerostet! Laufe ich eigentlich Gefahr, meine Muttersprache zu verlernen?
Diese Frage stellen sich viele Auswanderer. Sie haben das Gefühl, ihre eigene Muttersprache nicht mehr zu beherrschen. Oft vergisst man bestimmte Wörter, und setzt deswegen häufig die entsprechenden Lexeme aus der Sprache ein, mit der man täglich in Kontakt ist.
🇧🇷 Mas, afinal, é possível esquecer a própria língua materna?
A resposta depende de vários fatores:
1) Trata-se de uma criança ou uma pessoa adulta?
2) Que idade essa pessoa tinha quando saiu do seu país de origem?
3) Há quanto tempo ela vive no exterior?
4) Ela usa a sua língua materna para se comunicar no dia a dia?
5) Quais são as emoções ligadas ao idioma em questão, boas ou ruins?
Bom, como não sou expert em bilinguismo infantil, vou me referir aqui ao que pode acontecer com uma pessoa adulta: É praticamente impossível esquecer o idioma nativo. Há pesquisas que comprovam isso. Mas é possível, sim, que ocorra uma certa erosão da língua materna – é assim que os linguistas designam a redução de um idioma. E o que pode acontecer exatamente???
O emigrante pode notar a perda de determinadas estruturas linguísticas na sua própria língua. E a mais instável delas é o vocabulário. Sabe quando a gente fica tentando se lembrar de determinadas palavras e elas simplesmente parecem que desapareceram da nossa cabeça? A boa notícia é que trata-se de um fenômeno apenas parcial. Basta treinar para que seus conhecimentos sejam ativados novamente!
Outro fenômeno bastante comum nesse contexto é que o emigrante pode passar a ter um certo sotaque de gringo no próprio idioma. Talvez nada muito exagerado, mas eu diria que a entonação é um dos aspectos que mais sofrem influência… Já as estruturas linguísticas mais estáveis são a sintaxe (ordem das palavras numa frase) e a gramática (conjugação de verbos, plural das palavras etc.).
🇩🇪 Kann man eigentlich seine eigene Muttersprache verlernen?
Die Antwort hängt von verschiedenen Faktoren ab:
1) Handelt es sich dabei um ein Kind oder einen Erwachsenen?
2) Wie alt war die Person, als sie ihre Heimat verlassen hat?
3) Seit wann lebt sie im Ausland?
4) Verwendet sie ihre Muttersprache im Alltag?
5) Welche Emotionen werden mit der eigenen Sprache verbunden?
Da ich keine Expertin bin, was kindliche Zweisprachigkeit angeht, werde ich mich hier auf Erwachsene beziehen. Es ist so gut wie unmöglich, seine eigene Muttersprache zu verlernen! Es gibt Studien, die das belegen. Aber es ist wohl möglich, dass es zu einer sogenannten Attrition kommt. Dieser Begriff steht für einen möglichen Abbau der Muttersprache. Und was genau kann da genau passieren???
Bestimmte sprachliche Fähigkeiten können verloren gehen. Zum Beispiel kann der Wortschatz schrumpfen. Viele Auswanderer merken, dass ihnen bestimmte Wörter fehlen. Die gute Nachricht dabei ist: Dieses Phänomen ist nur partiell. Sobald der Wortschatz wieder aktiviert wird, verschwinden diese Wortunsicherheiten.
Lebt man sehr lange im Ausland, kann es auch passieren, dass auch die Aussprache darunter leidet und man einen Akzent in seiner eigenen Muttersprache bekommt. Ich würde sagen, dass in diesem Kontext die Betonung am meisten betroffen ist. Andere sprachliche Bereiche wie die Syntax (Satzbau) und die Grammatik (Konjugation von Verben, Pluralbildung usw.) sind aber eher stabil.
🇧🇷 E como é comigo?
Nasci e cresci no Brasil, e resido na Alemanha há 17 (!) anos. Esse tempo já corresponde à metade da minha vida! Ainda fico meio chocada, sempre que me lembro disso (hehehe). Sou professora de Alemão e Português para Estrangeiros. Além disso, faço Doutorado em Linguística Contrastiva (português-alemão). Ou seja, os dois idiomas são importantes ferramentas de trabalho pra mim. Mas isso não significa que eu não tenha problema algum com a erosão da minha língua materna. Eu já me peguei falando coisas do tipo Meu irmão sempre faz pratos muito ‘refinados’ quando cozinha (do alemão raffiniert), ao invés de usar a palavra correta em português que, nesse contexto, seria requintados…
Confesso que às vezes eu também fico um tanto “bolada” quando me pego cometendo erros de vocabulário que eu não cometeria antigamente. E daí o meu digníssimo marido (alemão e já bastante “famoso” aqui no blog), me lembra de algo que eu contei a ele há um tempo atrás: Quando somos bilíngues, há uma constante concorrência entre os dois idiomas no nosso cérebro. É como se eles estivessem lutando por uma certa predominância constantemente! Enquanto usamos uma das línguas, a outra tem de ser reduzida por um tempo. E é claro que isso nem sempre é fácil e pode causar diversos deslizes linguísticos vez ou outra:)
🇩🇪 Und wie sieht es bei mir aus?
Ich bin in Brasilien geboren und dort auch aufgewachsen. Mittlerweile bin ich aber schon seit 17 Jahren in Deutschland. Das entspricht inzwischen der Hälfte meines Lebens! Ich erschrecke noch jedes Mal, wenn ich darüber nachdenke… Ich bin Dozentin für Deutsch und Portugiesisch als Fremdsprache und promoviere im Bereich der Kontrastiven Linguistik (Deutsch-Portugiesisch). Das bedeutet also, dass beide Sprachen auch wichtige Arbeitswerkzeuge von mir sind. Und trotzdem ist es für mich harte Arbeit, mein Portugiesisch auf einem hohen Niveau beizubehalten…
Ich gebe zu, dass es für mich nicht immer ganz leicht ist, mit diesem Thema umzugehen. Meine Muttersprache ist mir heilig, aber sie ist jeden Tag dem Einfluss der deutschen Sprache ausgesetzt. Das ist per se nichts Schlechtes, auf keinen Fall, aber eben eine große Herausforderung! Bei zweisprachigen Menschen ist es nämlich so, dass die beiden Sprachen die ganze Zeit im Gehirn um die Vorherrschaft konkurrieren. Während man die eine Sprache verwendet, muss die andere heruntergefahren werden. Und dabei kann es natürlich passieren, dass es zu den sogenannten (negativen) Interferenzen kommt und man den einen oder anderen sprachlichen Ausrutscher liefert:)
🇧🇷 O que fazer para manter sua língua materna o mais „fresquinha“ possível?
Uma coisa que sempre ensino para os meus alunos é o seguinte: Para produzir output (falar, escrever), você precisa de input (ouvir e ler) no idioma em questão. E eu diria que esse princípio vale para a nossa língua materna também! Se você, assim como eu, está fora do Brasil há muitos anos e já domina o alemão, as minhas dicas são as seguintes: Leia jornais, revistas, livros em português; escute músicas brasileiras; marque encontros com amigos brasileiros. Enfim, mantenha seu português o mais ativo possível! Não permita que ele fique enferrujado!
Você também mora fora do Brasil há muitos anos e se identifica com o texto? Vou adorar ler seu comentário! Abraços e até a próxima!
🇩🇪 Was kann man tun, um seine eigne Muttersprache möglichst fit zu halten?
Im Bereich des Fremdsprachenlernens gilt eines: Wer Output produzieren will, muss Input bekommen. Das heißt: Man muss viel in der Fremdsprache lesen und hören, um diese auch schreiben und sprechen zu können! Und ich würde sagen, dass das auch für die eigene Muttersprache gilt! Lebst du schon lange im Ausland und hast Angst, deine Muttersprache zu verlernen? Dann kannst du was dagegen tun: Zeitschriften, Zeitungen, Bücher lesen; Musik hören; sich mit Freunden treffen, die die gleiche Sprache sprechen wie du. Sorge dafür, dass deine Muttersprache so oft wie möglich aktiviert wird! So wird sie sicherlich nicht einrosten:)
Wenn du in diesem Kontext auch Erfahrungen gemacht hast, dann würde ich mich über deinen Kommentar und den Austausch mit dir freuen. Viele Grüße und bis zum nächsten Mal!
Rode
Fontes/Quellen:
Renata Malkes (Deutsche Welle): É possível esquecer a própria língua?
Prof. Dr. Christina Noack (9. Osnabrücker Wissensforum, 2016): Mein Zahn tanzt. Kann man die deutsche Muttersprache verlernen? (9. Osnabrücker Wissensforum)
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Claudia
Gostei do seu blog. É interessante ler sobre temas que me identifico através de uma perspectiva de outra pessoa. Moro muitos anos fora do Brasil. Morei mais da metade da minha vida fora do Brasil entre Canadá, USA, Moçambique, Alemanha e agora resolvi estacionar em Mallorca. Sou casada com um holandês que adora o Brasil. Aliás, ele conhece mais o Brasil que muito brasileiro. O interessante de enferrujar o idioma materno, é que para mim não se limita a só uma outra língua. Falo espanhol, inglês e francês fluente e arranho no holandês e alemão. Às vezes me lembro de palavras em holandês ou alemão (línguas q não domino) mas não me lembro em português ou em outra língua que domino tão bem quanto o português. Depende do dia um idioma é mais forte que o outro.
Rode
Que bom que você gostou do blog, Claudia! Adorei o seu relato! Abraços de Düsseldorf!
Heloísa Kirsch
Olá Rode, adorei seu post! Identifiquei-me mto c/ vc, pois sou professora de Portugues e este ano completo 17 anos morando aqui na Alemanha(em Baden Würtenberg) mas ao contrario de vc, não consegui desenvolver bem meu alemão. Fiz vários cursos, mas não adiantou mto,isto pq meu marido fala perfeito português e tbem o pouco contato c/ os nativos! Eu entendo e escrevo bem, mas não consigo falar bem, me falta mto vocabulário! O q me deixa mto triste e frustrada, pois o meu sonho era ser professora de idiomas! Queria mto dar aulas p/ estrangeiros ,já mandei meu curriculo p/ varias escolas e até p/ a Uni de Karsruhe mas nunca me chamaram. Bom, enfim, gostaria mto de te conhecer e que me desse alguns conselhos, pois como não consegui ser o q queria, pelo menos gostaria de melhorar o meu alemão p/ conseguir um trabalho melhor, pois sou mto cobrada por isto! Vc mora onde? Eu moro coladinho em Baden Baden.Vc dá aula particular? Ficarei grata se me retornar… Viele Grüss, danke… Heloísa Kirsch
Rode
Olá, Heloísa!
Infelizmente é difícil mesmo conseguir uma vaga para dar aula de Português aqui na Alemanha. Mas não desista, não! Espero que as portas se abram logo pra você!
Moro em Düsseldorf. Devido ao meu trabalho e doutorado, não tenho como dar aulas particulares, mas deixo aqui um artigo que contém dicas para quem quer melhorar seus conhecimentos em um determinado idioma: https://entre-duas-culturas.de/21-tipps-zum-fremdsprachenlernen-21-dicas-para-aprender-idiomas/
Tudo de bom e abraços,
Rode
Werner Goertz
Concordo plenamente! Ler, ler e ler! Quanto mais se lê menos se esquece a sua lingua.
Nasci numa família aonde o alemão era a primeira língua; e isso no Brasil. Somente na pré escola é que comecei a viver a língua portuguesa e o alemão foi gradativamente sendo substituído pelo português. Meus avós e pais insistiam que falassemos mais intensivamente o alemão em casa e o português na rua; e era exatamente o oposto.
No meu primeiro emprego, meus chefes eram alemães e achavam engraçado e se admiravam com qual fluência eu falava com minha mãe ao telefone em português e alternava numa frase do português para o alemão e novamente para o português sem perder o fio da meada.
Mas, o que faltava, nessa condição, era a gramática alemã a qual só pude aprender, em parte, no Goethe Institut no Rio; déficit que me acompanha até hoje.
Mesmo vivendo há quase 30 anos na Alemanha, continuo usando a matemática brasileira e francamente, continuo a sonhar em português.
Um abraço Werner
Rode
Que interessante, Werner! Obrigada pelo relato! Abs.
Aida (@poligloteando)
Eu morei na Alemanha por 3 anos e agora moro na Holanda. Acontece muito comigo isso de esquecer uma palavra ou outra, porque trabalho usando o alemao e o inglês. às vezes sai uma palavra que eu nao lembro em português em outra língua, mas acho isso super normal. E também acho um ABSURDO essas pessoas que sempre ficam falando: Ah, esqueci o portugues, blablabla. Isso nao acontece quando se é adulto. Concordo que há um enferrujamento, mas esquecer, jamais! Haha! 😛 Adorei seu post! Até mais, Rode! 🙂
Rode
Que bom que você gostou, querida! Nosso português pode até ficar um pouquinho enferrujado às vezes, mas esquecer, JAMAIS:) Beijos procê!